Um voo independente, mas nada solitário

Dar à luz a uma vida deve ser uma experiência única. Quem passou por isso sabe dizer muito bem. São nove meses de expectativas e sonhos, medos e preocupações, mas que proporcionam uma experiência sem igual. Muitas realizam essa caminhada em conjunto com seus companheiros. Já algumas são desafiadas a trilhar essa estrada sozinha. Seja por escolha, ou pelas coisas da vida, esse é um desafio que em nada desanima aquelas que assumem o papel principal na história do seus filhos.
Ser mãe solo em uma sociedade cada vez mais líquida e com falta de tempo causa estranhamento para aqueles que não entendem o poder da figura feminina. E que poder. Aqui na Unochapecó existem vários exemplos de mulheres que compartilham, de maneiras diferentes, dessa mesma experiência. De forma firme e sincera, sem desacreditar no papel de mãe, mesmo diante de tantos outros que precisa assumir ao longo dos dias.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no ano de 2017, mais de 55 milhões de lares são chefiados por mulheres. Esse número está relacionado à independência, profissionalização e sucesso da mulher. Na cultura atual em que vivemos, onde o patriarcado ainda as oprime e as condiciona como um sexo frágil ou bela, recatada e do lar, ser mulher e mãe não é uma tarefa fácil. A provação é constante. É preciso, o tempo todo, mostrar capacidade e determinação. Tudo isso, para dizer ao mundo que ser mulher e mãe, sozinha, é uma questão de direito.
Para a professora do curso de Psicologia da Unochapecó, Larissa Antunes, a sociedade atualmente tem aumentado em proporção de famílias monoparentais, ou seja, quando um dos pais arca com a responsabilidade de criar integralmente o filho. Ela ainda explica que o termo mãe solteira, muito estigmatiza no passado, ainda é utilizado como um julgamento social e moral com relação à mulher. Por isso, o termo mãe solo se configura melhor para definir esse tipo de família. "A característica das mães solo são aquelas que tendem a buscar maneiras de equilibrar o trabalho e a família, com a finalidade de dispor mais tempo para se dedicar aos filhos e de ajudá-los a lidar com as situações da vida", explica.
Mudança de planos
Um exemplo disso é Emanuele Schardong. Estava no início do namoro, aos 16 anos, quando descobriu a gravidez. Isso foi em 2004, e as coisas eram diferentes naquela época. "Foi assustador pensar nas responsabilidades que um filho exigiria e, ao mesmo tempo, ainda estar vivendo todo o processo de amadurecimento que um adolescente vive aos 16 anos". A chegada de uma nova vida, tão pequena e tão dependente, assustava ao mesmo tempo que motivava. "Toda minha rotina teve de ser adaptada para que fosse possível exercer a maternidade de forma completa e, ao mesmo tempo, seguir com os demais projetos de vida, concluir os estudos e iniciar a universidade", conta.
Victor nasceu em 2005 e Emanuele contou com o apoio de todos os familiares. "A sensação foi de puro acolhimento". A existência de uma rede de apoio tão cheia de amor e companheirismo, como a que era oferecida pela família dela e pela família do pai, foi essencial para que a sensação de medo pudesse ser transformada em coragem e em vontade de tornar o processo de criação do Victor na melhor experiência possível. Por causa de todo esse suporte, em 2006, ela iniciou a graduação em Direito, enquanto morava no Rio Grande do Sul. Atualmente ela exerce a profissão em horário comercial e o tempo se tornou um grande desafio.
Há cerca de um ano, ela e o pai do Victor optaram por seguir caminhos diferentes. A separação acabou por modificar o processo de criação do menino. "Essa nova realidade promoveu algumas mudanças em minha vivência sobre a maternidade, pois a figura paterna não está muito presente", explica. Depois dessa mudança, todas as responsabilidades cotidianas passaram para ela. Estar inserida no universo do filho, hoje com 13 anos, é uma forma de mostrar que está atenta ao seus interesses. Através de um diálogo aberto, ela se envolve com os assuntos sobre campeonatos de futebol, videogames e youtubers. Compartilham filmes, séries e descobertas musicais constantemente. "Sinto que buscar essa proximidade através de assuntos que o interessam nos aproxima e faz com que a compreensão dele sobre todo o processo da maternidade-solo aconteça com mais naturalidade".
Nesse ano, Emanuele decidiu se desafiar novamente e iniciou um projeto pessoal, o de cursar Jornalismo na Unochapecó. Em algumas noites ela precisa se ausentar da companhia do filho para, assim como ele, ser estudante. Com essa nova atividade na rotina da família, é preciso dar uma dedicação especial ao Victor nos horários livres. "Por esse motivo, sempre valorizamos muito os momentos de lazer, tornando realmente especiais nossas noites em família. Isso faz com que nossas experiências de convivência sejam vividas sempre de forma mais intensa, com um verdadeiro cuidado para que todo momento junto seja verdadeiramente aproveitado", explica Emanuele.
Cecília e os estudos
Quem também vive essa rotina intensa (e até meio louca) de mãe solo é a jornalista Juliana Giongo. Coordenadora do Núcleo de Produção de Conteúdo (NPC) da Unochapecó, ela divide o seu tempo com o trabalho, com o mestrado em Educação da Universidade e, claro, com a sua filha Cecília. Com uma gravidez tranquila e esperada, a menina de sorriso pleno, igual o da mãe, veio ao mundo com muito amor para receber. Os dias foram passando e quando ela tinha um ano e meio, Juliana e o pai de Ceci também resolveram seguir caminhos diferentes. Nesse período de mudanças a principal preocupação era: 'será que vou dar conta?'. Muitas preocupações a cercavam. Da sua vida profissional à criação da filha. Com dois anos e meio agora, a rotina mudou e a pequena cresceu mais. O sorriso delas também.
O dia começa cedo na casa das duas garotas. Às 7h30 Cecília é levada para a escola e a mãe vai para o trabalho. O dia cheio de reuniões e assuntos para resolver termina às 17h30, quando vai buscar a filha na escola. "Desde os sete meses ela fica na escola o dia todo e se adaptou muito bem a isso", explica.
Outra coisa que também ajuda é a liberação de oito horas para os funcionários da Universidade realizar o mestrado. A entrada na pós-graduação aconteceu quando Ceci tinha um ano e meio. O pai, mesmo morando em outra casa, auxilia quando preciso e prioriza, assim como Juliana, o bem-estar da filha. Quem também ajuda é a família dessa mãe solo. Eles sempre incentivaram os estudos da filha e viram que, para isso, algumas noites deviam ser reservadas para cuidar da neta. Tios e primos também prestam apoio quando necessário. "É um período difícil, que exige muito esforço e tempo, mas é algo temporário. O ano que vem eu vou terminar os estudos e depois projetar novos sonhos para nós duas".
Questionar-se sobre estar fazendo o correto ou precisar ter mais tempo com a filha é algo constante, mas Juli sabe que a vida exige muito e sacrifícios precisam ser feitos. "Quando estamos juntas, procuramos ficar próximas. Nós tomamos banho juntas, cozinhamos, jantamos e estudamos juntas". Ela ainda tem certeza que o fato de estar estudando e de pegar os livros na mão é um exemplo positivo para a filha. E ela imita tudo o que a figura principal da sua vida, a mãe, faz. "Eu percebo que naturalmente ela está acostumada com o ambiente dos livros, do estudo, então quando eu estou estudando ela também pega um livro na mão e aprende do jeito dela".
Não existe fórmula
Desconfiada e com a menstruação atrasada, Gilseli Aparecida Molozzi resolveu fazer um exame de sangue para tirar a dúvida. Estava grávida. Na época trabalhava em uma empresa privada da cidade e tinha uma relação estável com o marido, que recebeu a notícia com tranquilidade. Heloisa nasceu e os anos foram calmos e com amor.
Quando a filha tinha cinco anos, o casal decidiu não mais viver juntos. Com isso, Gilseli assimilou os acontecimentos, assumiu a guarda e tocou a vida das duas. "É um desafio constante, pois você se preocupa com a educação, com querer dar o melhor estudo, acompanhar da melhor forma, em dar os acompanhamentos que ela necessita e fazer toda essa organização de rotina. Uma coisa é quando você tem uma pessoa para compartilhar e uma outra situação é quando você se vê sozinha e precisando dar conta de várias atividades".
Atualmente Gilseli é professora do curso de Administração da Universidade e precisa administrar o tempo com a filha e as aulas. Ocupa essa função de mãe solo há sete anos. "No início eram constantes adaptações, mas hoje eu digo que a gente tira de letra, tanto eu quanto ela. Na questão de organização, de buscar, de levar para os compromissos, para a própria escola e nos meus horários na Uno", completa.
Segundo a professora, não existe nenhuma fórmula ou receita, mas sim o resultado das vivências do dia a dia, de experimentar situações. "Todos os dias é uma situação nova, porque tenho os meus compromissos profissionais, ela tem os compromissos dela e você tem que se virar em 10 muitas vezes. Mas eu acho que o principal disso é você organizar e eu acho que a gente organizou, principalmente a nossa rotina".
Esse empoderamento feminino, de administrar a vida profissional, de se manter atualizada intelectualmente e de cumprir o papel materno, de dar amor e preparar um ser para a sociedade surpreende inclusive elas. "Eu não posso dizer que fiz tudo sozinha, pois eu tenho minha família, meus pais que auxiliam", acrescenta Gilseli. O pai de Heloisa também ajuda e passa os finais de semana com a filha, como planejado.
"A gente até brinca às vezes, dizendo que as mulheres vão dominar o mundo. Bem, são diante dessas situações que você vê que realmente dá conta. Cuida de uma casa, é uma boa profissional, é a mãezona e faz tudo sozinha. E ainda arruma tempo para se cuidar, para ficar bem, ficar bonita. Então eu acho que isso é o empoderamento feminino, você se perceber no ambiente, nas várias faces que a mulher desempenha e ficar de bem com isso. É encarar e dizer: eu consigo, eu vou lá e consigo", dá o recado a mãe da Heloisa.
*Estagiária, sob orientação de Greici Audibert
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